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A desconstrução do ensino

Com um investimento inicial de R$ 12 milhões, o resultado dessa guinada chega ao mercado em março de 2018. Trata-se de um serviço digital por assinatura batizado de LIT, disponível para qualquer dispositivo com conexão à internet. A proposta é muito semelhante ao modelo adotado por companhias como Netflix e Spotify. Enquanto o custo mensal de um curso convencional da escola é de, em média, R$ 1,5 mil, na nova plataforma, o assinante vai desembolsar R$ 99 por mês para ter acesso a todos os cursos da Saint Paul, em formatos como textos, vídeos, podcasts e gráficos. “Se muitos fizerem a conta, não vão mais querer pagar pelo formato tradicional”, diz José Cláudio Securato, CEO da Saint Paul. “Estamos desafiando o nosso próprio modelo de negócio.”

Mas nem tudo se resume ao preço e à influência das empresas da nova economia. O LIT carrega um componente que pode trazer mudanças profundas no setor e que está diretamente ligado a uma veterana da tecnologia. O serviço é o primeiro a usar o Watson, tecnologia de inteligência artificial da IBM, e um algoritmo desenvolvido pela Saint Paul, para avaliar textos – pessoais e profissionais – e questionários respondidos pelo aluno. A partir dessa análise, feita com permissão do usuário, a plataforma sugere trilhas personalizadas, descartando temas que já são do domínio do estudante. Também é possível identificar quais são os formatos nos quais ele tem mais facilidade para assimilar os conteúdos. “O modelo de educação uniforme, padronizada para todos, está ultrapassado”, diz Carlos Monteiro, CEO da CM Consultoria.Ele destaca o fato de a educação individualizada ser um tema em voga há tempos no setor. “Mas a Saint Paul, de fato, está saindo do discurso para a ação.”

Aposta: Fábio Gomes destaca que a inteligência artificial é um dos recursos para ampliar a base de 20 mil assinantes do HSM Experience (Crédito:Divulgação)
À parte das recomendações, o aluno tem autonomia para desenhar sua jornada dentro do LIT. E, nesse percurso, ele conta com o auxílio de um assistente virtual, também baseado no Watson. Para fazer com que a aplicação, batizada de Paul, seja capaz de tirar eventuais dúvidas sobre os tópicos estudados, a Saint Paul contratou cerca de 30 profissionais, boa parte deles professores, dedicados exclusivamente a “ensinar” o robô. E também desenvolveu um segundo algoritmo, que, assim como o primeiro, está em processo de pedido de patente. Além do Paul, os usuários conseguem consultar professores da instituição e participar de discussões em tempo real, promovidas pelos docentes ou por qualquer assinante. Um dos recursos disponíveis é a videoconferência, que tem capacidade para reunir até 250 pessoas.

O formato do LIT também abre a possibilidade de interações com a operação offline da Saint Paul. A cada curso concluído na plataforma, o aluno ganha um certificado. E se, eventualmente, o caminho percorrido digitalmente equivaler a um MBA, ele poderá procurar uma das duas unidades da escola, localizadas em São Paulo, para solicitar seu diploma. No entanto, antes disso, passará por um processo de entrevistas, avaliações de conhecimento e análise de perfil para cumprir os requisitos do Ministério da Educação e validar o documento, em uma abordagem semelhante aos cursos de ensino a distância.

A Saint Paul não está sozinha nessa trilha para transformar a educação. No fim de 2014, a HSM Educação Executiva, empresa do grupo Anima Educação, lançou o HSM Experience, serviço online que segue os mesmos princípios de Netflix e companhia. Com um custo mensal de R$ 59,90, ele reúne 25 mil artigos, palestras e entrevistas de gurus da gestão. A empresa também está começando a testar tecnologias como a inteligência artificial para refinar a oferta personalizada de conteúdos e ampliar a base de 20 mil assinantes ativos. “Muitos acessam a plataforma interessados em conhecer o serviço”, diz Fábio Gomes, gerente da área responsável pelo HSM Experience. “A ideia é usar esse assistente para dialogar com essas pessoas, entender suas necessidades e mostrar como o Experience pode atender cada demanda.”

Iniciativas como o HSM Experience e LIT colocam à prova os modelos de negócios do setor. No entanto, seu potencial de ganho de escala abre a possibilidade de levar essas empresas a um outro patamar. No caso da Saint Paul, a meta é alcançar, em três anos, uma base de 500 mil assinantes no Brasil, o que representaria um faturamento anual de quase R$ 600 milhões. Com a tradução dos conteúdos para inglês e espanhol em andamento, a empresa já planeja a expansão do serviço para países da América Latina e da África. Essa estratégia não exclui os investimentos na operação física, que possui uma média anual de 12 mil alunos. A instituição prevê a abertura de uma terceira unidade, também em São Paulo, em 2019. “Os dois modelos vão coexistir, pois as pessoas são impactadas pela transformação digital, de maneira, e em velocidades diferentes”, diz Securato. O executivo ressalta, porém, que o LIT tem tudo para ser o carro-chefe do negócio em poucos anos. “Ele abre um mundo de possibilidades para democratizar, com qualidade, o acesso à educação. E, para nós, esse é um caminho sem volta.”

FONTE: https://www.istoedinheiro.com.br/a-desconstrucao-do-ensino/

Moacir Drska – 02.11.17 – 19h00